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16 setembro 2014

A inflação como arma política da direita nas eleições presidenciais de 2014.

Postado Por: Átila Siqueira.  |  Em: ,


         A inflação supostamente alta é um dos assuntos que mais aparecem no debate político das eleições presidenciais de 2014. Boa parte da oposição ao atual governo federal acusa a presidente Dilma Roussef, candidata a reeleição pelo PT, de ter deixado a inflação voltar a subir. Um dos principais acusadores é Aécio Neves, candidato a presidência pelo PSDB.
         Realmente os indicadores econômicos apontam que a inflação ficará no teto da meta estabelecida pelo atual governo, podendo até talvez passar um pouco dessa meta. Isso não deixa de ser preocupante e com certeza a inflação precisa ser reconduzida ao centro da meta. Contudo, esse debate vai para alem disso, pois aqueles que acusam o atual governo usam essa situação como arma política para desqualificar a candidata do PT a reeleição, produzindo discursos descontextualizados com a realidade política e econômica do país, deixando de considerar a crise econômica mundial e também os índices de inflação anteriores e dos governos estaduais.
         O principal candidato e partido a usar o discurso da inflação é Aécio Neves, do PSDB. Ele diz que o governo está falido, que perdemos competitividade e que a inflação voltou a crescer. Mas é interessante notar alguns números que talvez possam ajudar na compreensão de como isso tem sido usado como arma política e como é uma situação que não corresponde à realidade histórica. Desde a instalação do Plano Real, no Governo de Itamar Franco, em 1994, tendo como Ministro da Fazenda Rubens Ricupero (que substituiu FHC, antigo ministro da Fazenda que organizou a equipe econômica do Plano Real); a inflação no Brasil foi drasticamente diminuída.
No primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, a média de inflação ficou em 9,8%. 22,4% em 1995, 9,5 % em 1996, 5,22% em 1997 e 1,6% em 1998. No segundo mandato de FHC sua inflação acumulada ficou em 8,6%. 8,9% em 1999, 5,9% em 2000, 7,6% em 2001 e 12,5% em 2002.
No governo Lula, do PT, a inflação no primeiro mandato ficou em 6,4%. 9,3% em 2003, 7,6% em 2004, 5,6% em 2005 e 3,1% em 2006. Na segunda gestão ficou em 5,1%. 4,4% em 2007, 5,9% em 2008, 4,3% em 2009 e 5,9% em 2010. Até agora, por período, foram às duas gestões com menor inflação.
O Governo Dilma, do PT, até agora, acumula a média de inflação de aproximadamente 6,1%, conforme as projeções para o fechamento de 2014, podendo talvez variar até para 6,6%. 6,5% em 2011, 5,8% em 2012, 5,9% em 2013 e 6,4% a 6,55% em 2014.
Se olharmos individualmente os anos de governo, veremos que quem teve os maiores índices de inflação em um ano foi o governo FHC do PSDB, com 22,4% em 1995, 9,5% em 1996, 8,9% em 1999 e 12,5% em 2002. Claro que temos que levar em consideração que 1995 e 1996 foram anos ainda influenciados pelo período anterior da hiperinflação. Temos também que dizer que o menor índice histórico em um ano foi atingido no governo tucano, em 1998, que teve a inflação em 1,6%, embora o arrocho salarial e o desemprego nesse período tenham ficado, em contrapartida, assustadoramente altos.
Mas se falando de economia, inflação é somente uma parte da história. Outros números precisam ser levados em consideração, como geração de emprego, crescimento do PIB, comparação entre o PIB de outros países no mesmo período, além de distribuição de renda e melhoria nas condições de vida da população.
Se levarmos ainda em consideração que o governo Dilma passou por uma das piores crises mundiais do capitalismo e mesmo assim conseguiu ter inflação menor do que o período FHC/PSDB, com mais emprego e mais renda para o trabalhador e sem criar arrocho salarial, os resultados não são tão ruins como prega o candidato Aécio Neves. Pensemos, por exemplo, no PIB brasileiro por períodos.
No primeiro mandato de FHC, a média do crescimento do PIB ficou em: 2,5%. Na segunda gestão ficou em torno de 2,1%.
O governo Lula teve 3,6% de crescimento do PIB no primeiro mandato e 4,6% no segundo.
Dilma, até o presente momento apresenta 1,8% de crescimento.
Contudo, no governo Dilma a crise mundial arrasou boa parte da Europa. A Espanha, por exemplo, chegou a ter 26% de desemprego, junto a vários outros países. No mesmo período, Dilma conseguiu diminuir o desemprego no Brasil, criando mais postos de trabalho com carteira assinada, aumentando o número de empresas criadas e diminuindo o número de falências.
O governo Lula teve resultados semelhantes, criando emprego e renda para os trabalhadores mais pobres. As três gestões do PT na presidência foram bem avaliadas pela ONU, como exemplos de combate as desigualdades sociais. Já o governo FHC, do PSDB, teve arrocho salarial e desemprego.
O que eu me pergunto então é como Aécio Neves do PSDB, tendo feito parte da base aliada do governo FHC/PSDB, tem a coragem de falar em inflação alta e baixo crescimento do PIB, quando o governo do seu partido, teve resultados muito piores, tendo sido Aécio nesse período líder da Câmara dos Deputados?
Aécio Neves pode tentar se desvencilhar de FHC e da antiga gestão federal do PSDB, mesmo ele tendo sido um dos principais membros da base aliada daquele governo. Porém, será que ele pode se desvencilhar então do governo de Minas Gerais, onde ele foi governador por dois mandatos e reelegeu Antônio Anastasia, seu principal aliado no Estado?
O governo de Minas amarga alguns resultados estranhos no quesito economia: Minas, nos últimos 12 anos, deixou de ser um dos Estados mais atrativos do Brasil para investimentos, caindo da posição de 3º mais competitivo para 6º. Essa era uma posição histórica de Minas Gerais, ao lado de Rio de Janeiro e São Paulo, porém, na gestão de Aécio Neves do PSDB, as coisas mudaram e o Estado perdeu competitividade.
Marina Silva, atualmente no PSB, também entra com a crítica da inflação alta. Curiosamente a fórmula econômica dela para reduzir a inflação é dar autonomia jurídica ao Banco Central e diminuir crédito imobiliário. Ou seja, sua fórmula é deixar os bancos ganharem mais dinheiro e cobrarem os lucros que quiserem, desacelerando a indústria da construção civil, o que vai certamente produzir desemprego, dentre outras coisas piores, como diminuição da renda dos mais pobres. Mas pode ser que ela mude de ideia, afinal de contas, ela tem mudado de ideia sobre seus programas de um dia para o outro. No caso da campanha de Marina, todo dia podemos ter uma novidade diferente, cada minuto é um flash. Então, talvez não precisemos nos preocupar com ela estar com o economista do plano Collor em sua campanha, ou estar com o pessoal do Banco Itaú, acusados de sonegação de impostos.
Mas em todo caso a inflação se tornou arma política nessas eleições, uma arma política da oposição contra o atual governo, contudo, os números mostram que no caso de Aécio, seus governos, do PSDB, apresentam resultados bem piores do que os governos em que Dilma esteve participando como ministra e como presidenta. No caso de Marina, sua crítica vem com uma solução que nos parece desastrosa para o futuro, além do fato de sua palavra parecer não valer o escrito.

Átila Siqueira é Historiador, Bacharel em História pela PUC-MG e Mestrando em História, pelo programa de pós-graduação em História da UFMG, na linha de História e Culturas Políticas.

Algumas referências:
http://www.brasil247.com/pt/247/economia/145260/PML-infla%C3%A7%C3%A3o-no-governo-FHC-foi-pior-que-com-PT.htm

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